A vida e a obra de Victor Jara expressam perfeitamente o que foi a Nova Canção Chilena. Um amplo movimento cujo objetivo era resgatar as raízes culturais do Chile e dos povos originários da América Latina. Não se tratava apenas de música, como o nome poderia sugerir, mas também de teatro, dança e inúmeros outros aspectos culturais. Tendo seu auge nos anos 1960, a música folclórica foi adotada por grupos de estudantes universitários que viajavam para o interior e investigavam todos os tipos de manifestações da cultura popular. Inúmeros grupos surgiram, como o Quilapayun, do qual Jara foi diretor artístico e o Inti-Illimani. Com o ascenso do movimento estudantil e operário no final da década, tais grupos assumem uma postura engajada, empunhando letras com temática social. Da mesma forma, a revolução cubana impactou a esquerda chilena e imprimiu um caráter internacionalista à consciência dos artistas. Politizados, os artistas do movimento engajaram-se de corpo e alma na campanha para a presidência em 1970, viajando o país pedindo apoio ao candidato da Unidade Popular, o socialista Salvador Allende. A década de 1970, embora tenha começado com a vitória de Allende, foi o prenúncio do esgarçamento do conflito de classes arrastado nos três anos seguintes. Em 1971, durante a comemoração da nacionalização das minas de cobre pelo governo, um jovem operário, amigo de Jara foi morto por um grupo fascista. Victor, transtornado com a tragédia, dedica ao amigo a canção “Cuando voy al trabajo”, onde retrata a vida do jovem operário. A polarização social se aprofunda nos anos seguintes. O boicote e o estoque de produtos realizados pela burguesia levaram o caos à economia chilena. Já em 1973, o poeta Pablo Neruda aparece na televisão chamando a atenção da Unidade contra o iminente golpe fascista. No dia 11 de setembro daquele mesmo ano, Pinochet, comandante das Forças Armadas, lideraria o golpe que custaria a vida de Allende e de milhares de ativistas chilenos. Naquela manhã Victor Jara foi para a Universidade onde lecionava e lá, ele e os estudantes tentavam resistir à polícia, enquanto o palácio de La Moneda era bombardeado e Allende morto. Jara e os estudantes foram presos e levados para o Estádio Nacional do Chile, onde o cantor foi torturado por quatro dias. Seu corpo só foi encontrado por sua mulher, Joan, dias depois, com a ajuda de um jovem comunista que trabalhava no necrotério. Foi o fim de sua vida e o início do mito. No programa de hoje você conhece um pouco da obra de Victor Jara. É o mínimo que podemos fazer.
Seleção musical: Ricardo Pereira.
1. “TE RECUERDO AMANDA”(Victor Jara) – VICTOR JARA
In: Pongo en tus manos abiertas, 1968.
2. “DUERME DUERME NEGRITO”(Traditional, Adapt: Atahualpa Yupanqui) – VICTOR JARA
In: Pongo en tus manos abiertas, 1968.
3. “CUANDO VOY AL TRABAJO”(Victor Jara) – VICTOR JARA
In: Manifiesto, 1974.
4. “AQUI ME QUEDO”(Pablo Neruda/Victor Jara) – VICTOR JARA
In: Manifiesto, 1974.
5. “EL DERECHO DE VIVIR EN PAZ”(Victor Jara) – VICTOR JARA
In: El derecho de vivir en paz, 1971.
6. “LAS CASITAS DE BARRIO ALTO”(Malvina Reynolds/Victor Jara) – VICTOR JARA
In: El derecho de vivir en paz, 1971.
7. “CANTO LIBRE”(Victor Jara) – VICTOR JARA
In: Canto Libre, 1970.
8. “CANCIÓN DE CUNA PARA UN NIÑO VAGO”(Victor Jara) – VICTOR JARA
In: Victor Jara, 1967.
9. “VAMOS POR ANCHO CAMINO”(Victor Jara/Celso Garrido Lecca) – VICTOR JARA
In: El derecho de vivir en paz, 1971.
10.“VIENTOS DEL PUEBLO”(Victor Jara) – INTI-ILLIMANI
In: Inti-Illimani interpreta a Victor Jara, 2000.
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Ela está aí para isso mesmo.
9 comentários:
Já tinha ouvido Te Recuedo Amanda com o Ivan Lins, mas não conhecia o trabalho do Victor Jara, lindas as canções, agradeço pela oportunidade de ouvi-las
Puxa, eu amo música latina, nunca entendi porque nós aqui do Brasil escutamos tão pouco, posso sugerir uma série de artistas, silvio rodriguez que eu amo, mercedes sosa, violeta parra, só sei de uma coisa que não perco mais esse programa, super beijo
Que delícia de seleção!
Ótima para uma segunda-feira.
Também não entendo porque no Brasil não temos tanto contato com as música latina...
Ricardo, quase uma da manhã e estou na terceira dose e na terceira audição deste programa imperdível. Sempre que ouço Victor Jara sinto uma tristeza profunda, muito, mas muito dolorida. Penso nele como em um irmão, um companheiro. Não sei porquê. Ouço suas canções como caminhos possíveis, apesar de hoje muitos a rotularem de "datadas". A voz de Victor, carregada de certezas, me põe frente a frente com a realidade, me mostra que a revolução não pode ser excluída como possibilidade. Choro neste exato momento em que Canto Libre ecoa pelo apartamento e eu percebo - espantado - que atrás de mim, na parede, há um pôster com a imagem eterna de Salvador Allende. Victor Jara me fez lembrar que, em minha sala, há um pedaço do Chile socialista. Viva Victor Jara! Viva a América Latina! Viva o socialismo!
Realmente Bruno este programa ficou bacana, confesso à boca pequena o meu preferido até agora, talvez para o futuro façamos um repeteco de jara com algumas que ficaram de fora: soldadito boliviano por exemplo; preguntitas sobre dios. Aliás uma dos melhores motivos de manter o blogue no ar é para isso mesmo, onde é que se ouve victor jara hoje em dia? No dia em que as canções de Jara estiverem 'datadas' é porque a humanidade foi sepultada. Eu sou apaixonado por El Derecho de vivir en paz, ouço e canto junto como se fosse possível, o pior que não sei se comunista ou otimista demais, acho que é possível, tem que ser possível, de outro jeito a vida não vale a pena. Fica o abraço, hermano.
Jane, my dear, com você parece que eu sempre posso contar. Como diz o velho Geraldo: "Te gosto".
"Soy un cantor popular... Popular no de popularidad, sino porque pertenezco a la clase trabajadora."
Te Recuerdo Victor Jara!
muito bonita essa tua iniciativa Ricardo!
Querido, já não está na hora de outro programa de música latina, você me prometeu violeta parra
Olá Ricardo! Que músicas lindas... gosto muito de todas, Lo unico que tengo e Deja la vida volar também são canções belíssimas
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